Por César Viana
Há um movimento que ganha mais e mais adesão: querem melhorar e difundir o jornalismo de precisão, jornalismo de dados ou #DDJ, sigla-repositório de comentários, ações e links sobre esse tal data-driven journalism. Há diferentes nomes para práticas recentes: incluir os sistemas de dados como fontes de informação no cotidiano das redações ou entre os agentes comunitários de notícias.
As tecnologias digitais incorporam novas maneiras de disseminar conhecimento na sociedade. O jornalismo de precisão – este termo é o mais usado na literatura de comunicação desde a década de 1970 – também pode ser entendido como um esforço da mídia para se adaptar às mudanças que transformam os espaços de informação. Isso inclui diversos aspectos como mais interatividade e narrativas multidimensionais capazes de incluir o leitor nos processos de produção de notícias. Há muito a se incentivar e a envolver o público na criação e na avaliação de reportagens.
Vivenciamos os primeiros balbucios da infinidade de perspectivas que se abrem para a transparência e convivência em público nesses âmbitos digitais. Com isso, abrem-se novas frentes de atuação coletivas para resolver questões cotidianas como melhorar os fluxos de nossas ruas, reaproveitar o sem fim de informação que se gera em todas as cidades, acompanhar cada detalhe das eleições ou de como são aplicados os orçamentos públicos. Como os dados públicos passaram a ser abertos no Brasil há espaço para inovações e colaborações para se criar sistemas de prevenção de enchentes ou de secas, por exemplo.
Pelo mundo afora aparecem mudanças sociais que ganham força pela mobilização em redes online. Isso em si é uma grande fonte de notícias e também de dados. Os jornalistas precisam saber como achar e utilizar as fontes de dados para tratar e divulgar essa informação, bem como saber se há permissão legal para se publicar uma base de dados e abri-la para que outras pessoas também tenham acesso.
Muda o jeito como os jornalistas passam a apurar, a elaborar e a envolver o público em suas reportagens. Mas quais as dicas, os primeiros casos de sucesso, os procedimentos mais eficazes?
A partir do esforço conjunto de entidades como a Fundação pelo Conhecimento Livre (www.okfn.org) e o Centro Europeu de Jornalismo (www.ejc.net) foi feito o desafio de se construir um manual de jornalismo de precisão totalmente aberto. A ideia foi lançada no Mozilla Festival do ano passado em Londres e convocava pessoas para juntas prepararem artigos durante um fim-de-semana. A intenção era lançar um livro de 60 páginas com pelo menos 20 colaboradores. Uma meta possível… mas os meandros dessa vida tecnológica trouxe melhores surpresas.
Surgiram 71 colaboradores que fizeram 70 capítulos em 120 páginas. Tudo foi trabalhado durante seis meses para ficar o mais atualizado e abrangente possível. Pessoas de diversos países, culturas e veículos de comunicação se juntaram por meio de uma lista de email. Por ser aberta, qualquer um pode acompanhar ou participar de todas essas conversas.
Entre os participantes estão jornalistas da BBC, Chicago Tribune, Guardian, Financial Times, New York Times. ProPublica, Deutsche Welle e Washington Post. O manual de redação foi lançado no Festival Internacional de Jornalismo em Perugia, Itália. Para saber mais sobre as práticas de jornalismo de precisão e baixar gratuitamente uma cópia é só acessar a página criada pelos voluntários.
O próximo passo é editar o livro em vários idiomas, quem quiser participar basta deixar os dados com o grupo e mãos à obra. O manual de redação de jornalismo de precisão também é impresso e distribuído pela O’Reilly Media.
Um caso brasileiro é descrito no manual: como os residentes da cidade de Januária, Minas Gerais, usaram dados públicos para conseguir melhoras no atendimento de saúde e no trânsito da comunidade. O Estado de São Paulo foi o primeiro veículo de comunicação a desenvolver projeto relacionado ao jornalismo de precisão. Uma novidade que se faz cada vez mais necessária entre os profissionais de imprensa e o público brasileiro.
Conteúdo gentilmente cedido pela revista Zona Digital/UFRJ
César Viana é professor da Universidade Federal de Goiás, jornalista e doutor em comunicação audiovisual e publicidade pela Universidade Autônoma de Barcelona – foi um dos colaboradores da primeira edição desse manual de redação de jornalismo de precisão.