A série Estados Abertos traz relatos contextuais sobre dados abertos em cada um dos estados brasileiro. O objetivo é desconcentrar as atenções da região sudeste e oferecer um panorama da transparência pública em todo o país. Começamos (#1) abordando Alagoas (AL) a partir da entrevista com os professores Ig Ibert Bittencourt (UFAL) e Seiji Isotani (USP).
Ig e Seiji trabalham com ontologias, ou seja, com a representação de conhecimento. Ontologia é o que permite conectar dados de maneira sistemática para que pessoas ou computadores os entendam e acessem. Em parceria com a USP e com a UFAL, criaram o Joint (Java Ontology INtegrated Toolkit), uma ferramenta para programadores.
O Joint facilita desenvolver aplicativos com dados disponíveis na web. Ele não apenas modela dados, mas também mapeia ontologias e realiza consultas. Com isso, automaticamente gera códigos e acelera a produção de aplicações em Java.
O projeto é atualmente financiado pela World Wide Web Consortium (W3C), um consórcio que define políticas e padrões para toda a web, tais como HTML, CSS e o esquema das 5 estrelas. Este último foi proposto por Tim Berners-Lee, o inventor da web, e é nele que se baseia o Joint. Segundo o modelo, dados abertos são classificados em:
(clique nas estrelas para ver os exemplos)
★ Conteúdo disponível na Internet (em qualquer formato) com uma licença aberta
★★ Conteúdo disponível como dados estruturados (ex. Excel, em vez de uma imagem)
★★★ Uso de formatos não proprietários (ex. CSV, em vez de Excel)
★★★★ Uso de URI para denotar as coisas para as pessoas indicarem seus conteúdos
★★★★★ Dados ligados a outros dados a fim de fornecer contexto
Contexto
O desenvolvimento do Joint atraiu a participação de alunos e, no começo de Abril, alguns deles venceram o Startup Weekend Arapiraca. O aplicativo proposto se chama Boa Moradia e serve para ajudar quem está de mudança a encontrar o bairro mais apropriado para viver. Para fazer esta avaliação, a tecnologia consulta dados socioeconômicos abertos.
Boa Moradia é apenas um exemplo de projeto facilitado pelo Joint. Além dele, muitas pesquisas acadêmicas utilizam a plataforma. Também a empresa MeuTutor, especializada em tecnologias educacionais para melhorar a aprendizagem, tem toda sua estrutura baseada em ontologias. O alcance do Joint vai além da academia, como se pode notar.
Seiji destaca o crescimento de projetos de dados abertos. Segundo aponta, o suporte da W3C é fundamental para este processo. Mais dados públicos estão sendo disponibilizados e mais pessoas os consomem e os replicam. Isso gera um novo ciclo de novos negócios e empresas baseadas em dados abertos, onde o Joint tem muito a contribuir.
Ecossistema
Em Alagoas, várias iniciativas começam a surgir. Enquanto o Boa Moradia vai para incubação, Ig trabalha em parceria com o governo do estado e com a prefeitura de Maceió para estimular a abertura e a transparência de ambos. Os avanços no estado também são frutos do momento dos dados abertos no país e do esforço local de muitas pessoas.
Ig coordena o Nucleo de Excelencia em Tecnologias Sociais (NEES) da UFAL, onde incentiva seus alunos a empreenderem em prol da sociedade. Dentro deste grupo de pesquisa, também a USP tem orientado alunos de graduação e mestrado. Novos aplicativos, produtos, empresas e recursos humanos são frutos destes esforços.
Nos últimos meses, o tema Open Data ganhou ainda mais força dentro do NEES, devido à parceria com o Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico de Alagoas (SEPLANDE/AL). O lançamento do catálogo de dados da SEPLANDE, o Portal Alagoas em Dados e Informações, indica o empenho do Governo do Estado em direção a abertura de seus dados.
O atual plano de ações inclui: definir Ontologias, estudar integrações do CKAN com outras plataformas de dados, realizar uma Hackatona, dentre outras propostas. Além disso, “Já conseguimos fazer um primeiro mapeamento dos desafios que temos a enfrentar por aqui. Estes desafios e oportunidades podem pautar o inicio das nossas discussões”, conta Thiago Avila, superintentende da SEPLANDE.
Junto a outros brasileiros, Ig e Seiji também fazem parte do no Data on the Web Best Practices Working Group (DWBP). Este grupo de trabalho da W3C busca definir diretrizes para qualidade de publicação e utilização de dados.
Entrevistados
Ig Ibert Bittencourt é professor da UFAL, trabalha com Dados Abertos Conectados e Web Semântica. Atualmente é Advisory Representantive da UFAL no W3C e faz parte do Grupo de Trabalho do W3C Data on the Web Best Practices. Ig também coordena um projeto financiado pelo W3C Brasil, juntamente com o professor Seiji Isotani da USP. Também tem uma empresa chamada MeuTutor, que usa tecnologias semânticas.
Seiji Isotani é professor da Universidade de São Paulo (ICMC-USP). Há mais de uma década trabalha com geração de tecnologias educacionais voltadas para o ensino de matemática. É fundador e atual co-coordenador do CAEd e pesquisa os seguintes temas: ontologias, open linked data, web semântica, sistemas tutores inteligentes, CSCL (aprendizagem colaborativa) e mineração/visualização de dados educacionais.
Veja mais:
- Boa Moradia vence o Startup Weekend Arapiraca e se garante no Demo NE
- Membros do NEES são aprovados em concurso no IF-AL
- Ramos, projeto desenvolvido pelo NEES-UFAL
Ver também
- Maturidade em dados abertos: entenda as 5 estrelas, por Nitai Silva (janeiro de 2013)
Fotografia da capa: Peixada no Bar da Luana, por Alagoas Colaborativo.
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