Em cerimônia de abertura, representantes das organizações promotoras do evento destacam a importância da colaboração para avançar na abertura de dados e no desenvolvimento de governos abertos
Com 2.741 pessoas inscritas de diversos países, o América Aberta começou ontem (dia 3/12) reunindo autoridades governamentais nacionais e internacionais e representantes de sistemas judiciários e do parlamento, de organizações da sociedade civil, além de pessoas servidoras públicas, pesquisadoras e jornalistas no Instituto Serzedello Corrêa (ISC), em Brasília, no Distrito Federal.
O evento – que é o maior encontro de dados abertos da América Latina – teve início com uma cerimônia de abertura que contou com a participação de representantes das organizações do Comitê Organizador do América Aberta. Flávia Schmidt, diretora de Governo Aberto e Transparência da Secretaria de Integralidade Pública da Controladoria-Geral da União (CGU), conduziu esse momento, direcionando as perguntas às demais representantes.
Haydée Svab, diretora-executiva da Open Knowledge Brasil (OKBR), foi a primeira a se pronunciar, destacando, em sua breve fala, o ineditismo do evento e a sua importância em tempos de retrocessos:
“A realização do América Aberta, pela primeira vez no Brasil, em contato, em contexto e em conjunto com parceiros latino-americanos reforça a agenda pró-democracia, que é tão necessária em tempos de retrocessos no acesso à informação, como vemos em alguns países da região. E a democracia que estamos construindo e fortalecendo aqui é uma democracia participativa, cidadã, aberta, com accountability, possível e permeável à sociedade civil”, disse.
Ela ainda enfatizou como o trabalho da OKBR está alinhado aos objetivos e temas do evento – como na atuação em prol da alfabetização de dados com o programa Escola de Dados; da liberdade de imprensa, com a Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais (Coda.Br); do desenvolvimento de tecnologias cívicas, com produtos como o Querido Diário; ou promovendo articulação entre entes da sociedade civil e governo.
“Assim, esse evento dialoga com a missão da OKBR de promover o conhecimento livre e aberto, a integridade, a transparência pública, o fortalecimento da relação entre sociedade civil e governo por melhores políticas públicas. Não teria como não fazermos parte do América Aberta”, declarou Haydée.
Veja o painel de abertura abaixo:
Desafios, colaboração e avanços
Paul Maassen, chefe de programas globais da Open Government Partnership (OGP), lembrou que, pela urgência dos tempos em que vivemos, é mais importante do que nunca a colaboração, tanto interna quanto externamente, garantindo a inclusão de todas e todos.
“A participação não é mais uma aspiração, é um imperativo. Temos que trabalhar juntos e além das fronteiras, descobrindo como fazer isso principalmente englobando os indivíduos que não foram incluídos nas conversas anteriores – e que, muitas vezes, em eles sabem que podem fazer a diferença”.
Gisele Craveiro, representante do Colaboratório de Desenvolvimento e Participação da USP (Colab-USP), relembrou a história dos eventos da Abrelatam-Condatos e a importância de construir e participar da desconferência da Abrelatam. “Somos muitas as vozes do sul global, e todos temos lições muito valiosas para compartilhar”.
Maria Fernanda Trigo, diretora do Departamento de Gestão Pública Efetiva da Organização dos Estados Americanos (OEA), explicou como, desde o primeiro evento em 2012, o trabalho com dados abertos foi mudando, conforme o assunto foi progredindo com a ajuda da comunidade de dados.
“No começo, enfatizou-se a abertura de dados para mostrar os benefícios que ela trazia para os governos e a cidadania. Depois, começamos a ver o valor dos dados abertos para criar valor público e surgiram muitos laboratórios de inovação. Posteriormente, a partir de 2018, eles foram usados para prevenir e lutar contra a corrupção”, relatou.
Ela ainda chamou atenção para a falta de continuidade nas políticas públicas, pedindo mais políticas de estado, com atenção para a atualização e a qualidade dos dados abertos.
Gloria Guerrero, diretora executiva da Iniciativa Latino-Americana de Dados Abertos (ILDA), elencou cinco desafios pontuais importantes que devem ser discutidos ao longo do evento, como o fortalecimento da governança e das capacidades institucionais, a qualidade e usabilidade dos dados, a participação cidadã efetiva, a sustentabilidade das iniciativas e, por fim, a questão da segurança e privacidade.
Também estiveram no debate de abertura Hartmut Glaser, secretário-executivo do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) do NIC.Br; Paula Costa Marques, chefe da Divisão de Inovação para Serviços Cidadãos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); Camila Gramkow, diretora interina do Escritório do Brasil da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) das Nações Unidas; e David Grossman, representante da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
América Aberta
O evento acontece até sexta-feira (dia 6/12) e ocupa quinze espaços do ISC para realizar atividades de cinco trilhas:
- Encontro Aberto para uma Região Aberta (Abrelatam);
- Conferência Regional para Dados Abertos da América Latina e Caribe (ConDatos);
- Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais (Coda.Br);
- Semana de Dados Abertos;
- Encontro de Governo Aberto.
Ao longo desses quatro dias de evento, as discussões tratarão da publicação e uso de dados abertos relacionados a assuntos atuais, como transparência, acesso à informação, governo aberto, tecnologias cívicas, jornalismo de dados, governo digital, responsabilização e equidade. Entre os temas do evento, estão a construção coletiva, o poder da abertura, vidas melhores e o futuro é aberto.