Aaron Swartz: contra a privatização do conhecimento

08 set de 2015, por OKBR

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Aaron Swartz num encontro da Wikipédia em Boston, em 2009

Aaron Swartz num encontro da Wikipédia em Boston, em 2009. Crédito: Sage Ross

Segundo Aaron Swartz, programador americano, escritor, organizador político e ativista falecido em 2013, informação é poder. Em seu “Guerrilla Open Access Manifesto“, Swartz revela que embora o patrimônio científico e cultural da humanidade venha sendo crescentemente digitalizado, seu acesso tem sido regulado por algumas corporações privadas que o vendem, a um preço por vezes muito caro, para uma minoria de privilegiados.

No entanto, há aqueles que reconhecem a injustiça da concentração e da restrição do acesso a todo esse patrimônio. Trata-se do Open Access Movement (Movimento do Acesso Aberto). Eles lutam para que cientistas publiquem seus trabalhos na internet sob termos que permitam o acesso a qualquer pessoa. Mesmo assim, afirma, esse esforço só servirá para as publicações futuras. Tudo até agora vem sendo perdido.

No momento, pesquisadores são obrigados a pagar para ler o trabalho de seus colegas. Bibliotecas são digitalizadas, mas apenas o pessoal do Google pode lê-las. E artigos científicos são fornecidos para grandes universidades de elite do primeiro mundo, mas não para as crianças do sul global. Como solução, Swartz convoca seus leitores ao contra-ataque: todos aqueles com o privilégio do acesso a esses recursos têm o dever moral de compartilhar o conhecimento, seja disponibilizando senhas ou downloads para colegas.

Ele nos assegura de que aqueles que não têm acesso já vêm se esgueirando em busca de informações por meio da pirataria — termo que sugere que o compartilhamento de conhecimento é um crime equivalente ao saque de bens de um navio e ao assassinato de sua tripulação — mas que, pelo contrário, compartilhar é um imperativo moral.

“Não há justiça em seguir leis injustas. É hora de vir para a luz e, na grande tradição da desobediência civil, declarar nossa oposição a este roubo privado da cultura pública”, afirma Swartz. E recomenda: é necessário pegar informações, onde quer que elas estejam armazenadas, fazer cópias e compartilhá-las com o mundo. É preciso pegar o material que está fora do copyright e adicioná-lo ao arquivo, comprar bancos de dados secretos e colocá-los na Web, baixar revistas científicas e subi-las para redes de compartilhamento de arquivos. É preciso, ressalta o ativista, lutar pela Guerilla Open Access.

Todo o idealismo de Swartz surge de uma profunda consciência de seus privilégios. Em “How to get a job like mine” (“Como conseguir um trabalho como o meu“, em tradução livre), Swartz lista alguns deles — ele vem de uma família endinheirada, é homem e americano — e descreve sua trajetória: de um garoto de Chicago com um grande interesse pela internet a um dos principais ativistas pela democratização do conhecimento.

Em sua fala, ele revela uma verdadeira inquietação pelo conhecimento. Sua busca começou ainda adolescente, ao procurar saber tudo o que pudesse sobre computadores, a Internet e a cultura da Internet. Aos treze anos, já tinha aprendido a construir sites, aplicações da web e já começava a ter ideias para seus primeiros projetos — uma enciclopédia colaborativa e um agregador de links.

Em pouco tempo, se envolveu na criação do sistema de feeds RSS e co-fundou o Reddit, um site de avaliação de links para conteúdo na web. Ao longo de sua jornada, teve que se conectar com milhares de pessoas que pensavam como ele por meio de listas de e-mails, ligações telefônicas e fóruns de internet, descobrindo o real poder da colaboração em massa.

Após vender o Reddit para a Condé Nast, empresa dona da Wired, Swartz se mudou junto com sua equipe para São Francisco. Ele afirma ter odiado a Wired e a vida de escritório. Aos poucos, foi ficando cada vez mais insatisfeito, até que pediram para que ele se demitisse.

Depois de sua tentativa de se adaptar ao mundo corporativo, resolveu iniciar outros projetos: fundou a Open Library, mantida pelo Internet Archive, e o site Watchdog.net, para agregar e visualizar dados sobre políticos americanos.

Ao final de seu discurso, ele nos brinda com uma série de conselhos: cultive a sua curiosidade, diga sim às oportunidades e presuma que ninguém mais tenha ideia do que está fazendo também. Segundo Aaron, “pouca gente realmente tem alguma ideia de como fazer as coisas de maneira correta e menos ainda está disposta a tentar coisas novas, então normalmente se você der o seu melhor em alguma coisa você vai se dar muito bem.”

Em janeiro de 2011, Aaron Swartz foi preso pelas autoridades federais americanas, após usar a rede do MIT para descarregar sem cobrança grandes volumes de artigos da revista científica JSTOR. Ele foi acusado pelo governo dos EUA pelo crime de invasão de computadores — podendo enfrentar até 35 anos de prisão ou uma multa superior a um milhão de dólares — por ter usado formas não convencionais de acesso ao repositório da revista. Swartz era contrário à prática da JSTOR de compensar financeiramente as editoras, e não os autores, e de cobrar o acesso aos artigos, limitando o acesso para fins acadêmicos.

Dois anos depois, em janeiro de 2013, Aaron foi encontrado enforcado no seu apartamento em Crown Heights, Brooklyn – num aparente suicídio. Após sua morte, a promotoria federal retirou as acusações contra ele.