Abrelatam é um uma desconferência que promove a participação para que a América Latina se torne aberta e inclusiva. É organizada por referências da sociedade civil e promove um formato de relacionamento horizontal entre os participantes. Todos os participantes, independentemente dos setores que vêm (por exemplo, do governo, da sociedade civil, acadêmicos, jornalistas) – devem seguir o protocolo fornecido pela desconferência sobre o respeito, a tolerância, a escuta atenta, o diálogo horizontal e diversidade.
ConDatos é conferência regional de dados abertos, destinada a promover a publicação, utilização e apropriação de dados abertos para o desenvolvimento inclusivo na região. É uma conferência organizada pelo governo baseado em trabalho de colaboração com o Comitê Abrelatam, e propõe um formato inovador de participação, o intercâmbio entre os vários secores envolvidos na agenda: governo, sociedade civil, setor privado e academia. Ambos os eventos são realizados em conjunto e pretendem ser complementares para reforçar a relação e a cooperação entre as propostas governamentais e da sociedade.
Neste ano, o Abrelatam/Condatos foi realizado entre os dias 7 e 10 de setembro, em Santiago, no Chile. No evento, houve o lançamento da Carta Internacional para los Datos Abiertos, disponível em inglês, espanhol e francês e esperamos que em breve em português (a Open Knowledge Brasil está articulando a tradução da carta junto ao Tribunal de Contas da União). O diretor executivo da OKBr, Everton Zanella Alvarenga, teve a oportunidade de acompanhar alguns painéis e compartilhou suas percepções sobre a conferência.
Inicialmente, Everton notou que a comunidade hispanoparlante é mais integrada que o Brasil. Além disso, sentiu falta de representantes do governo brasileiro no evento. “Será que não está na hora de o Brasil mostrar o que está fazendo no campo da transparência na América Latina e organizar o próximo Abrelatam/Condatos?”, questiona.*
No painel “Modelos de negócios e dados abertos”, muitos afirmaram que quando se fala em dados, em alguns países, como nos EUA, empresas utilizam-se da lei análoga à Lei de Acesso a Informação (LAI), a FOIA (Freedom of Information Act) para ter acesso a dados públicos e criar suas estratégias de negócios. Questionou-se, portanto, a ausência de grandes empresas nas últimas Abrelatam/Condatos para apoiar as iniciativas das sociedade civil organizada e pequeno empreendimentos (e. g., startups).
Como proposta, Everton sugere que na próxima Abrelatam/Condatos se faça um esforço para atrair grandes empresas que financiem boas iniciativas envolvendo dados, que farão pitches sobre seus projetos buscando capital de risco, como ocorre em diversos outros eventos focados em startups.
Quando o tema Empreendimentos Sociais e Dados Abertos foi abordado, a questão da importância da participação na resolução dos problemas sociais mapeados pelos dados foi levantada. Como analisar os benefícios sociais e impactos nos diversos problemas sociais dos projetos com dados abertos? Everton aponta a necessidade de se investigar como os dados balizam a atuação da sociedade civil e a elaboração de políticas públicas, de maneira a resolver ou ao menos atenuar os problemas detectados.
Já o workshop de Contratos Abertos, que tinha como objetivo ajudar os participantes a identificar e avaliar os dados existentes sob o padrão estipulado pelo Open Contracting Data Standard e identificar opções de implementação e exibição dos padrões, apresentou conteúdos que puderam beneficiar iniciativas como o projeto Gastos Abertos, da OKBr, que trabalha com os contratos da cidade de São Paulo.
Além de ver os painéis e participar dos workshops mencionados, Everton Zanella contribuiu com sua apresentação sobre Comunidades Dateras, apresentando hackatonas e hackdays feitos pelo Brasil, comunidades brasileiras que trabalham com dados abertos, manuais e guias disponíveis para trabalhar com esses dados e diversos projetos empreendidos pela Open Knowledge e pela Open Knowledge Brasil ou que contam com a parceria desta última.
Como destaque sobre as reflexões produzidas após o evento, Everton cita o post “Essa ressaca de dados abertos”, de Yasodara Cordova, da W3C Brasil. O artigo, de acordo com a própria autora, é uma reflexão sobre cidades inteligentes, seu fluxo prometido de dados e o sistema no qual estamos incluídos. “As perguntas das conferências de open data, smart cities, bigdata e seus derivados quase sempre giram em torno de como esse fluxo de dados vai gerar mudanças, ou sobre como estes dados podem ser gatilho para um gerenciamento decente de nossos recursos, trazendo a transparência e o tal ‘governo aberto’ como consequência”, ressalta Yasodara.
* Nota: já sabíamos que o Brasil não poderia organizar a Condatos/Abrelatam do ano que vem por não ter enviado uma proposta para os organizadores dentro do prazo, apesar dos esforços de articulação entre órgãos do governo para que isso ocorresse. Esse texto foi escrito um pouco depois do evento, apesar da recente publicação.