Post originalmente publicado no blog Open Data Innovation em 23 de março.
Comunidade. Community. Essa palavra continua aparecendo em todas as nossas entrevistas. Mas o que comunidade realmente significa? Qual é a conexão entre comunidades e inovação? Consultando o dicionário, alguém vai encontrar pelo menos dez diferentes definições para a palavra comunidade. No caso de dados governamentais abertos, esta definição pode se aplicar: “A condição de compartilhar ou ter certas atitudes e interesses em comum.”
Todas as pessoas com quem falamos têm um interesse em comum óbvio: dados abertos. Em todo caso, durante nossa pesquisa, nós encontramos diferentes envolvidos (stakeholders) nessa comunidade que também acreditam em transformação social e veem dados governamentais abertos como uma ferramenta e não uma condição para esta mudança. Em todos os países – Chile, Argentina e Uruguai – encontramos pessoas que acreditam que podem fazer a sociedade avançar contribuindo com ela.
Ainda assim, quando pensamos na América Latina, não podemos deixar de considerar o contexto geográfico, que sugere a aplicação de outra definição da palavra comunidade: “Uma área em particular ou lugar considerado um conjunto com seus próprios habitantes”.
Percebemos que como continente, a América Latina tem um espírito comunitário único, com implicações mais amplas importantes. Primeiro, há uma rede de indivíduos e organizações próximos que cooperam entre si diariamente. Por exemplo, existe um grupo no Whatsapp que conecta membros diferentes da comunidade e tem membros de múltiplos países da América Latina.
Segundo, diferente de outras regiões do planeta, a comunidade de dados abertos da América Latina fala predominantemente um idioma, o Espanhol (com a única grande exceção, o Brasil). Isso contribui para criar um ambiente mais confortável para colaboração em língua nativa, permitindo que as ideias se espalhem rápido.
Terceiro, existem também conexões pessoais. A maioria dos nossos entrevistados mencionou que eles veem outros membros da rede não apenas como colegas, mas como amigos. A impressão que ficou das entrevistas é que essa rede dá suporte e permite aos diferentes membros do grupo não apenas compartilhar ideias, mas também testá-las e implementá-las fornecendo mentoria e às vezes apoio financeiro.
Comunidade de Dados Abertos de Buenos Aires no ODD ’15
O que faz essa comunidade ser tão próxima? Nossa pesquisa aponta para uma iniciativa principal: AbreLATAM. AbreLATAM (uma brincadeira com a palavra abrelatas, em espanhol) é a desconferência de praticantes de dados abertos na América Latina. A ideia começou no Uruguai, onde a única ong de dados abertos local, DATA Uruguai, decidiu que eles precisavam de uma plataforma para compartilhar experiências com outros ativistas de dados abertos do continente. A ideia foi quase considerada loucura na época – levar pelo menos 100 pessoas para Montevideo para discutir dados governamentais abertos. DATA Uruguai levou a questão a alguns financiadores, que ficaram felizes em dar uma ajuda na criação do evento, mas também pediram por um evento que envolvesse governos. Isso levou à primeira conferência regional de dados abertos chamada Con Datos, que este ano acontece em seguida à AbreLATAM. A AbreLATAM é agora gerenciada por uma comunidade de organizações e foi realizada pela segunda vez em outubro de 2014 na Cidade do México pelo SOCIALTIC; O Ciudadano Inteligente em Santiago será o responsável pela terceira edição em setembro.
De qualquer forma, enquanto discutir dados abertos é importante, entrevistados do Chile, Argentina e Uruguai mencionaram outro aspecto da AbreLATAM como o momento de confraternização. Não é nenhuma surpresa que bater papo e dividir experiências fora dos interesses comuns ajude a criar intimidade entre os participantes e aproximá-los como grupo. Ainda não existem melhor conexão do que o olho-no-olho. Além do mais, dada a ênfase social, talvez nós devêssemos pensar em comunidade no sentido oferecido por Rollo May, o famoso psicólogo americano: “comunicação leva à comunidade, que é compreensão, intimidade e valorização mútua.” Isso nos leva a pensar: podemos replicar AbreLATAM e o “efeito confraternização” na Europa, onde não há um idioma central e há diferentes culturas? E se essa initimidade for criada, isso ajudaria a promover inovação de um modo sem fronteiras, fortalecendo a sociedade civil no continente? É, pelo menos, um experimento a ser considerado.