Impressões de Oda sobre o Laboratório Hacker

28 fev de 2014, por OKBR

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A primeira reação foi torcer o nariz. A segunda foi passar para o próximo email e dar um gole de café. É justamente por momentos assim que o café deixou de ser um simples estimulante para ter um papel mais importante na minha vida. Se não fosse por essa pausa, eu provavelmente não teria me lembrado que, como membro do Garoa Hacker Clube, eu tenho o compromisso de “promover os ideais da ética hacker perante a comunidade e o poder público, esclarecendo desentendimentos acerca do termo [hacker]”. Foi por isso que retornei àquela thread iniciada na lista do Garoa e respondi dizendo que deveríamos colaborar com o projeto.

Oda

Oda, membro do Conselho Fiscal e um dos fundadores da OKF Brasil

Para contextualizar um pouco, estou falando de uma história que começou no ano passado, no Hackathon na Câmara dos Deputados. Durante as conversas da maratona foi levantada a ideia de que aquilo deveria acontecer de maneira mais contínua, possivelmente com a criação de um laboratório dentro da própria Câmara. Eu não estive presente para poder contar com mais detalhes o que rolou, mas parece que o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves, gostou da ideia. Nesse momento um pessoal esperto pegou o barco e continuou remando. O resultado foi que em dezembro último saiu a resolução criando o Laboratório Hacker e na semana passada houve a sua cerimônia de inauguração, da qual tive a honra de participar.

Essa inauguração foi um encontro de 2 dias com hackers de norte a sul do Brasil. Quem organizou tudo foi o próprio pessoal do Laboratório Hacker, funcionários públicos, com anos de casa, que já viram de tudo ali naqueles corredores e que estão tão interessados em melhorar o país quanto nós. Aliás, vale a pena dizer que a organização foi impecável e todos fomos muito bem recebidos.

No primeiro dia nós conversamos um bocado sobre o que deveria ser aquele espaço. Me parece meio consenso que vamos ter realmente um hackerspace, em todo o sentido da palavra, com um único anti-pattern: está dentro de uma instituição (apesar que, neste caso, está mais para solução do que para problema). De todo modo, antes de dar uma resolução empacotada, escolhida pelas poucas pessoas que participaram da inauguração, optamos por colocar em prática aquilo que temos exigido há tempos: possibilidade de participação. Então a ideia é que, de maneira colaborativa, a gente redija um texto definindo o que o espaço fará e como. Esse texto será oficializado pelos deputados e transformado em algo de acordo com a burocracia da Câmara. Mas, tudo com a participação de quem quiser participar. A bola está no nosso pé. Ou chutamos ou damos as costas e continuamos reclamando que nada funciona. Sentiu o drama?

Bom, continuando, na parte da tarde tivemos algumas palestras relâmpago e acabamos o dia falando de Arduino. Essas atividades vespertinas foram muito boas para que a gente pudesse se conhecer melhor, entender um pouco dos trâmites da Câmara e falar de hacking para além de dados abertos. Isso foi muito positivo pois, ainda que muitas das coisas desse laboratório venham a ser permeadas pelo tema dos dados abertos, este certamente não é a única coisa a ser trabalhada. Concluímos, por exemplo, que aquele poderia ser um espaço de experimentação, de tentar promover soluções criativas às questões trazidas pela sociedade, priorizando sempre a colaboração e o compartilhamento. Ou seja, um espaço para um pouco do verdadeiro hacking.

O dia seguinte começou com a cerimônia de inauguração. Foi bacana, sem dúvida, mas o ponto alto foi quando fomos nos encontrar com o presidente da Câmara, Henrique Alves. Ele aceitou o convite para conhecer o nosso espaço, que descreveu como “uma bagunça organizada”, e rabiscou (literalmente) a nossa parede, escrevendo uma frase que será importante para conseguirmos o apoio necessário para manter o espaço vivo: “Este Parlamento brasileiro começa a mudar aqui. É a revolução pelas ideias e pela comunicação”.

É claro que essa satisfação por ter vivido esse momento, e a empolgação com o que pode vir pela frente, caminham juntas com um estado de alerta. Em terreno de política não cabe ingenuidade e é preciso permanecermos atentos para saber tirar proveito da situação sem perder nossos princípios. Que esse estado de alerta, porém, não seja um impedimento de qualquer espécie. Esta é uma oportunidade singular para aumentar a participação da sociedade e a transparência, e para promover maior horizontalidade das relações. Não é o momento de perder este bonde por preconceitos ou outro tipo de estupidez. Nós temos tudo o que precisamos: comprometimento e abertura por parte dos responsáveis, espaço físico e apoio político. É agora que temos que demonstrar, na prática, a aplicabilidade e a importância de tudo que acreditamos. Precisamos nos unir, articular, fortalecer e participar. Que tal?

nanoFAQ

0. Hacker ou ráquer?

Sei lá, eu chamo de hacker.

1. O Laboratório Hacker é de algum partido?

Não. Ele pertence à estrutura administrativa da Diretoria Geral. Evidentemente, receber apoio de deputados é uma necessidade para continuar existindo, é papel de todos regular estas relações.

2. O Laboratório Hacker vai fazer lobby?

O Laboratório Hacker não vai fazer nada. Quem faz alguma coisa são as pessoas, utilizando a estrutura do laboratório e não em nome dele. Certamente este será um espaço para tensionar as relaçoes entre governo e sociedade, promover isso é lobby? Acho que não.

3. Qual o papel da equipe do Laboratório Hacker?

Além de organizar atividades, preparar materiais e promover a participação da sociedade, eles vão tentar fazer a ponte sociedade-burocracia-política.

4. Quem pode participar?

Todo mundo! Para todos os efeitos, o Laboratório Hacker é um hackerspace.

5. Como manter contato?

Entre na lista de email: https://lists.riseup.net/www/info/labhackercd

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