OKBR no Open Data Fórum Suíça 2023: um pouco do que vimos e contamos por lá

22 jun de 2023, por Fernanda Campagnucci

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Zurique também foi sede do encontro anual de capítulos da Open Knowledge Foundation; leia o relato da diretora-executiva da OKBR, Fernanda Campagnucci, que esteve presente nos dois eventos

 Quais desafios o Brasil e a Suíça podem ter em comum em termos de dados? Para começar, ambos têm estruturas administrativas de governo que tornam complexa a produção – e, portanto, o acesso – a dados públicos locais. A Suíça tem 26 cantões (um “estado” com autonomia nessa confederação), enquanto o Brasil tem, também, seus 26 estados, além do Distrito Federal. Ambos têm numerosas subdivisões – os suíços têm 2.212 comunas, que são de um nível equivalente aos nossos 5.570 municípios brasileiros.

Foi curioso ver essas dificuldades que conhecemos bem por aqui refletidas nas discussões do Open Data Forum, evento realizado anualmente pelo Open Data.Ch, capítulo local da Rede da Open Knowledge. O encontro de 2023 aconteceu em Zurique, em 16 de junho. Pessoas de diversos setores estiveram presentes, incluindo organizações da sociedade civil, pesquisadores e atores do setor privado. Foi marcante a presença de gestores públicos dos diversos níveis de governo – muito mais do que costumo notar em nossos eventos de comunidade.

Estivemos presentes em duas atividades. Como diretora-executiva da OKBR, participei do principal painel do evento, com o tema “Políticas de Dados Abertos”, ao lado dos representantes da OK Grécia e da OK Suécia. A atividade foi moderada por Andre Golliez, co-fundador do capítulo suíço. Falamos, cada um a partir da perspectiva de seu país, sobre os desafios que enfrentamos para estabelecer e monitorar a questão dos dados abertos como política pública essencial para nossas democracias. Nos três países, vimos que os desafios ainda são muitos, incluindo avanços e retrocessos ao longo dos últimos 10 anos – mas que a agenda segue relevante como nunca.  

Em outra sessão, apresentei o Querido Diário, projeto da OKBR que enfrenta o problema da falta de dados sobre os municípios brasileiros a partir da abertura de dados de diários oficiais. A iniciativa também despertou a curiosidade da comunidade de dados suíça – justamente pelas semelhanças que identificaram entre os dois países nos desafios de acesso a dados locais e no método arcaico de publicação dos diários oficiais. Em conversas de corredor, ouvi desabafos sobre esses problemas e muitos elogios sobre o engajamento que o Querido Diário construiu na comunidade brasileira para abrir esses dados.   

Atividades que valeram post-its

Quando há atividades simultâneas, escolher quais acompanhar é sempre uma decisão difícil – toda a programação parecia interessante. Menciono apenas algumas das que acompanhei e que me fizeram encheram o caderninho de notas e lembretes para buscar mais informações depois:

        • Open Material Data”, sessão apresentada por Maximilian Vonhof. A curiosidade começava pelo título: “dados materiais”? Quase isso: dados sobre materiais. Um projeto de código aberto que busca ampliar a disponibilidade e a qualidade de dados na indústria de construção civil, reunindo diversas fontes e formatos (sem padrão) e oferecendo uma API. Dados sobre as propriedades dos materiais ajudam, por exemplo, a monitorar questões de sustentabilidade das construções.

      • International Inventories Programme (IIP), projeto apresentado pelo artista queniano Jim Chuchu. A iniciativa é fruto de uma cooperação entre dois coletivos de artistas, três museus e o Goethe Institute. Eles investigaram a existência de artefatos de origem queniana em museus ao redor do mundo e produziram uma base de dados abertos com os 32 mil objetos encontrados.

Encontro de capítulos da OK

No dia anterior ao Fórum (15/6), a Open Knowledge Foundation organizou um encontro de capítulos para discutir ações em comum e a própria organização da rede no mundo. Estiveram presentes, além de nós da OKBR, representantes da Alemanha, Finlândia, Grécia, Japão, Nepal, Suécia e Suíça. Na semana seguinte (21/6), um encontro online deu sequência ao debate, para incluir países que não puderam estar presentes em Zurique, como Austrália, Itália, Nigéria, Rússia e Somália.

Além de ser um momento importante para fortalecer os laços entre as organizações, pudemos também discutir a necessidade de estabelecer mecanismos de governança e de sustentabilidade das iniciativas da rede. Muitos obstáculos foram identificados, mas também fervilharam ideias sobre como avançar coletivamente.

Como um país do Sul Global, levantamos a urgência de fortalecer a rede pelo conhecimento livre em nossas regiões, assim como ampliar a diversidade e a solidariedade entre os capítulos. Temas como Justiça de Dados e o impacto desproporcional das mudanças climáticas em nossos países devem estar no centro das ações, mas, para isso, precisaremos incluir mais vozes nesse debate.