Agora a Open Knowledge Brasil faz parte do time de apoiadores da Operação Serenata de Amor. A equipe do projeto criou um robô – uma inteligência artificial capaz de analisar cada pedido de reembolso dos deputados e identificar a probabilidade de ilegalidade. E nós, da OKBR, estamos colaborando com o planejamento da próxima etapa do projeto e com a busca de possíveis financiadores. Yasodara Córdova, nossa conselheira, é também conselheira da iniciativa.
“Acredito que esta seja uma das iniciativas mais interessantes no campo da inovação política no Brasil por vários motivos. Ela está contribuindo com o aumento da transparência nos gastos públicos e também com a diminuição dos pequenos casos de corrupção ou desvio de fundos públicos; está mobilizando muitos voluntários interessados no assunto e conta com um time de jovens muito engajados e capacitados”, destaca Ariel Kogan, diretor-executivo da OKBR. .
O momento da Operação Serenata de Amor é de planejamento da sua continuidade e expansão. Abaixo, na entrevista, Felipe Cabral, um dos idealizadores, conta mais sobre tudo o que envolve essa jornada. Confira!
OKBR: Qual é o atual momento da Operação Serenata de Amor?
Felipe: A Operação Serenata de Amor está planejando sua continuidade e expansão. Explico. A ideia surgiu em julho de 2016. A campanha de crowfunding no Catarse foi publicada dia 7 de setembro e recebemos fundos que nos mantiveram por 3 meses. Esses 3 meses foram principalmente de construção de software e, em janeiro de 2017, houve uma mudança de foco para a construção de um sistema de auditoria e denúncias.
Desde fevereiro estamos trabalhando sem nenhum tipo de retorno financeiro, fazendo uso das nossas próprias poupanças – e elas são pequenas, a nossa sorte é que somos frugais.
Nesse período estamos trabalhando em:
– Novas análises
– Validade da condição legal da empresa em emitir nota. São 5222 suspeitas até agora. Recebemos orientação da Onília do RS que é empreendedora, contadora e muito mais.
Validade da identidade da empresa. Estamos cruzando dados que validam o local da empresa e sua atividade econômica apresentada.
– Construção de uma campanha de crowdfunding recorrente. E aqui é onde nos apresentamos nossas razões para tal.
– Construção de parcerias
Open Knowledge Foundation Brasil
Nossas Cidades
Uma mentora que possui muita história na luta pela abertura de dados, transparência, acesso a rede, privacidade, segurança na web e mais: Yasodara Córdova
Observatório Social do Brasil
Enquanto o projeto não for sustentável financeiramente, os membros do time irão se dedicar a consultorias externas para colocar suas especializações técnicas a serviço.
OKBR: Como tem sido a parceria da Operação Serenata de Amor com a OKBR?
Felipe: Ela tem sido valiosíssima. Primeiro, temos que recordar aos leitores que a OKBR é uma das responsáveis pelas políticas de dados abertos no Brasil e no mundo. Sem a abertura de dados e a transparência, o trabalho da Operação Serenata de Amor seria inviável. É o primeiro projeto cívico do time que, pela sua natureza, não tem modelo de negócios. Nisso, estamos recebendo ajuda de como montar orçamentos e apresentar as contas. Além disso, a OKBR tem uma rede internacional de contatos. A Operação Serenata de Amor é um projeto inédito no mundo, que tem possibilidade de se estabelecer em qualquer país que possua transparência de gastos do governo.
A OKBR atua como uma rede. Tem parcerias com o Observatório Social, que também estamos firmando parceria. Além disso, a OKBR é a organização-chave de uma diversidade de projetos que são complementares ao nosso projeto.
A comunicação e a organização para aproveitamento da sinergia entre os projetos é fundamental. Por fim, a organização é capaz de encontrar financiamento que permitirá a Operação Serenata de Amor retornar com força total.
OKBR: Como tem sido a atual dinâmica de trabalho?
Felipe: A dinâmica do trabalho é a mesma desde o início dos trabalhos da Operação Serenata de Amor. Adotamos as técnicas de consultoria de desenvolvimento de software para internet. Isso significa que utilizamos métodos ágeis, kanban, e mais. Todo o resultado de software é público, e isso é demasiado importante. Uma pergunta frequente que é direcionada para nós é: “quem cuida para que o robô seja idôneo”. A nossa resposta é sempre: todos nós. Isso quer dizer que ao abrir o código, deixar disponível, manter um grupo aberto de comunicação com um grupo técnico de 500 membros e estar sempre atento ao perfil do código no Github, onde há mais de 1700 pessoas seguindo o código, estamos nos dispondo ao controle social que nós mesmos executamos no governo.
As primeiras mensagens que trocamos pelo chat são sempre próximas das 7 da manhã, com uma reunião geral diária as 9 da manhã, quando definimos a agenda do dia com todos os membros do time. O chat se mantém ativo por todo o dia, com chamadas frequentes por vídeo. Também fazemos muito uso de compartilhamento de tela para trabalharmos em duplas.
Como é um projeto que é mantido pelo público, uma parte muito importante é descrever o projeto, nossas ações e resultados em uma linguagem não técnica. Para isso, mantemos uma rotina de relatórios e um blog que é para publicarmos algo sempre que há alguma notícia relevante.
Um fato curioso é que estamos em seis cidades diferentes e executamos, a risca, a cartilha de trabalho remoto, ou teletrabalho.
OKBR: Como tem sido a repercussão do projeto?
Felipe: A repercussão tem sido uma surpresa muito agradável. Antes mesmo da publicação da campanha no Catarse, ao apresentar a ideia, eu era questionado: É possível? Tu e teu time conseguem fazer uma inteligência artificial que irá digerir todos esses dados e compreender os casos suspeitos? Com os resultados publicados, fomos procurados por praticamente todos os canais nacionais de TV, fomos capa de jornal que é relevante em toda a América Latina. No total, são mais de 80 aparições na mídia. Todas de maneira espontânea. Existe a repercussão no universo de desenvolvimento de software também.
O grupo de discussão técnica no Telegram é ativo, onde pessoas colocam suas dúvidas, oferecem resultados. É incrível testemunhar uma comunidade crescente e que possivelmente serão os novos cientistas de dados que poderão oferecer mais ferramentas de controle social no Brasil e no mundo. E por fim, as mensagens pessoais de esperança nos bons resultados do projeto e apoio são o que nos mantêm firmes na execução da Operação Serenata de Amor.
OKBR: A atual equipe conta com quantos profissionais?
Felipe: Ao todo, são oito membros do time principal.
Irio Musskopf – Cientista de dados, líder técnico
Experiência em empresas de consultoria de software no Brasil, como cientista de dados em empresas dos EUA e estudou ciências de dados em Berlim.
Ana Schwendler – Cientista de dados
Formada em ciência da computação, projeto de conclusão baseado em ciência de dados
Jessica Temporal – Cientista de dados
Formada em informática biomédica, fez parte de projetos de pesquisa como cientista de dados
Eduardo Cuducos – Gerente de comunidade, programador, pesquisador
PhD candidate na University of Essex, programador e designer
Bruno Pazzim – Marketing, programação
Empreendedor e responsável pela questão visual do projeto e toda a ação de marketing.
Pedro Vilanova – Jornalista, pesquisador
Responsável por toda atividade jornalística.
Felipe B Cabral – XO
Administração geral e operacional.
Mentora:
Yaso Córdova
Fellow of the Berkman Klein Center at Harvard , e já foi Web Specialist na W3C Brazil.
É comum recebermos ajuda voluntária técnica. Nos relatórios quinzenais, nós costumamos citar quem mais colaborou no período.
OKBR: Conte pra gente alguns destaques das vitórias que já tiveram desde o lançamento do projeto.
Felipe: A primeira grande vitória foi acompanhar o processo do começo ao fim. Da concepção de uma idea, da programação, da campanha, da validação da suspeita e que culminou em uma devolução de dinheiro aos cofres públicos. Todo o fluxo do projeto foi testado e foi comprovado que era possível!
Tivemos o reconhecimento do Ministério da Transparência, Câmara dos deputados e Tribunal de Contas. Órgãos responsáveis pelo controle de despesas do governo que afirmaram em reuniões presenciais que o nosso trabalho é essencial e colaboramos efetivamente com o ecossistema de controle social.
Com um grupo técnico que oferece ajuda mútua, existem mais indivíduos que estão aprendendo sobre ciência de dados usando o nosso projeto. Já existem excelentes contribuidores e, em breve, teremos pessoas que se “formaram” em ciência de dados usando todo o processo da Operação Serenata de Amor como caso.
Até agora, tivemos mais de 80 aparições em jornais e em diversos veículos nacionais: TV, rádio e jornal.
O time é unido e está junto todos os dias. Tivemos diversos registros de trabalho que ocorreram durante finais de semana – e nada disso foi combinado, exigido ou cobrado. É a sinergia, gosto e paixão que estão por trás.
OKBR: E como tem sido o processo de mobilização da sociedade para fazer com o que o projeto continue?
Felipe: A sociedade tem provado que está apostando seriamente em nós. Durante a fase do Catarse, nós nos tornamos o projeto que envolve política e ciência com o maior financiamento da história do Brasil. Agora, com o financiamento recorrente, no Apoia.se/serenata, há um registro crescente de apoios. Rapidamente nos tornamos o quarto maior projeto da plataforma. Além disso, existem milhares de mensagens de apoio que recebemos.