Desenvolvedor da OKFn e pesquisadores de organização parceira, Ação Educativa, integram a equipe
Está no ar o “Escola Que Queremos” (www.escolaquequeremos.org), projeto ganhador do 1º Hackathon de Dados Educacionais – concurso promovido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) que reuniu hackers, programadores e desenvolvedores em Brasília entre os dias 12 e 14 de abril.
Oito equipes participaram da iniciativa, selecionadas pelo Inep a partir da inscrição de projetos que utilizassem dados do SAEB – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – para a criação de aplicativos.
O site foi desenvolvido em 36 horas seguidas de trabalho (veja abaixo detalhes dos participantes da equipe), a partir do cruzamento dos microdados do Censo Escolar e da Prova Brasil de 2011, inclusive os questionários socioeconômicos respondidos por estudantes, professores e diretores.
A ideia é que cada pessoa selecione, num painel de 14 indicadores, elementos que considere importante para avaliar a qualidade de uma escola, entre diferentes dimensões: ambiente físico, gestão democrática, insumos e condições de funcionamento, formação e condição de trabalho dos professores. O site também permite a comparação dos indicadores da escola com os do município, do estado e do país.
“Partimos da constatação de que o debate sobre qualidade é pautado quase que exclusivamente pelo Ideb [que tem por base indicadores de desempenho dos alunos em Português e Matemática e taxa de aprovação], apesar da enorme quantidade de dados disponíveis hoje”, diz Fernanda Campagnucci, uma das integrantes da equipe e assessora da ONG Ação Educativa.
Para Fernanda, a ampliação do conceito de qualidade é importante para a garantia do direito à educação. “Não basta ter a vaga, é preciso que ela seja de qualidade. Mas como as pessoas vão poder avaliar e reivindicar isso em suas escolas se não conhecerem as informações disponíveis?”, questiona.
Nesta primeira versão, o aplicativo permite a busca de escolas que possuem ensino fundamental de primeiro ciclo – os dados da Prova Brasil são da 5ª série.
Mobilização
De posse das informações sobre sua escola, o usuário tem caminhos para entrar em ação, encaminhar denúncias e exigir a resolução de problemas com as autoridades responsáveis.
“Quando o usuário do site ‘brinca’ de montar seu indicador, percebe que a nota do Ideb pode ser uma visão muito reduzida do que é qualidade e que um índice poderia comportar outras coisas. Esse é um grande debate no campo da educação, mas precisa estar acessível também à comunidade escolar, não só pesquisadores”, afirma Fernanda.
Em uma próxima versão, o grupo pretende acrescentar à ferramenta a possibilidade de que estes e-mails sejam encaminhados de forma automática.
Dados educacionais
Para a realização da maratona, o Inep estabeleceu um acordo de cooperação técnica com a Fundação Lemann, que ajudou o órgão a acelerar a consolidação de sua base de dados.
Vitor Baptista, que trabalha com dados públicos e desenvolve aplicações com dados abertos na OKFn, avaliou positivamente o conjunto de dados disponibilizados. Foi a primeira vez que ele usou dados educacionais. “Apesar de ele ter algumas falhas, foi o melhor que já vi até agora”, afirma.
Ainda assim, durante a maratona, a equipe do “Escola Que Queremos” precisou deixar de lado dimensões e indicadores que considerava importantes, mas sobre os quais não havia dados confiáveis disponíveis.
É o caso do salário dos professores, que o grupo pretendia comparar com o Piso Salarial Nacional para o Magistério da Educação Básica. Os questionários preenchidos pelos docentes trazia um campo com o salário bruto, mas essa informação não pôde ser aproveitada para o cálculo do piso pela forma como as questões foram elaboradas.
“Não havia clareza sobre bonificações ou descontos, por exemplo. E para fazer qualquer comparação salarial, seria necessário pegar o valor bruto declarado e dividir pelo total de horas semanais declaradas pelo funcionário, para tentar chegar a um valor médio de hora/aula. Como o professor precisa enquadrar sua carga horária em faixas genéricas – como ‘até 19 horas-aula’ e ‘mais de 40 horas aula’ -, torna-se virtualmente impossível tentar calcular uma média de hora-aula por professor sem incorrer em graves distorções”, explica Pedro Guimarães, um dos programadores da equipe.
Já que o salário do professor é uma informação relevante para avaliar a qualidade da educação, Pedro sugere que este campo do questionário seja aprimorado. “Se o questionário permite que o funcionário escreva por extenso seu salário, por que não permitir também que escreva por extenso o número de horas-aula que trabalha por semana?”.
Código aberto
O “Escola Que Queremos” é um software que possui seu código registrado sob licenças livres na internet. A ferramenta está licenciada sob a GNU/AGPL, licença que torna o projeto livre e aberto a colaborações e uso por toda a sociedade. Isso significa que seu código pode ser replicado, modificado, reinstalado por qualquer pessoa e para qualquer fim, desde que citada a fonte.
O código está disponível sobre a plataforma de controle de versão conhecida como Git, e o repositório gratuito pode ser acessado no GitHub, repositório este que reúne as informações sobre o software e seus códigos-fonte. Lá é possível também relatar problemas e sugerir melhorias, e desenvolvedores da comunidade do software livre já começam a inserir suas contribuições ao projeto.
Outros projetos do Hackathon
Os vencedores receberão, até 30 de abril, uma bolsa de R$ 5 mil para investir no desenvolvimento de seu produto. A equipe que ficou em segundo lugar (Projeto “Padeb”), receberá R$ 3 mil e a que conquistou a terceira posição (Projeto “Busca Escola”), R$ 2 mil. Conheça os outros projetos participantes: Zoom; Política do Futuro; http://inep.envolva.org ; Valorize (projeto de valorização de professores , não foi concluído); e EduQI.
A equipe
Adriano Bonat, 27 anos, de Porto Alegre, é graduado em Ciências da Computação pela Universidade Federal de Pelotas e desenvolvedor de software na empresa ThoughtWorks
Fernanda Campagnucci, 27 anos, de São Paulo, é jornalista, editora do Observatório da Educação da ONG Ação Educativa e mestranda em Educação na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP)
Luis Felipe Serrao, 27 anos, é cientista social, assessor da ONG Ação Educativa e mestrando em Educação na FE-USP
Pedro Guimarães, 27 anos, de João Pessoa (PB), é desenvolvedor de software no Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira do PNUMA/MCTI no Laboratório Nacional de Computação Científica, integrante do Circuito Fora do Eixo e entusiasta do Software Livre.
Vitor Baptista, 27 anos, de João Pessoa (PB), é desenvolvedor de software e trabalha com dados abertos e transparência pública para a Open Knowledge Foundation (OKFn).