No fim de semana dos dias 22 e 23 de março, ocorreu em São Paulo a Hackatona da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). 51 pessoas divididas em 15 equipes concorreram aos R$22 mil em prêmios. Participei do evento e relato aqui minhas impressões.
Local, estrutura, organização
A Hackatona ocorreu no recém inaugurado Laboratório de Tecnologia e Protocolos Abertos para Mobilidade Urbana, no mezanino do prédio da Secretaria Municipal de Trânsito (SMT), ao lado da estação São Bento do metrô paulistano. O espaço é uma parceria entre a Fundação USP (FUSP) e a Prefeitura de São Paulo, por meio da SMT e suas empresas, CET e SPTrans.
A ideia do Laboratório é usar inovações tecnológicas para melhorar a mobilidade em São Paulo. Para se tornar “um centro de excelência em mobilidade urbana com relevância internacional”, seu recurso orçamentário de R$800 mil deve atrair não só empresas e startups, mas também estudantes e professores interessados em bolsas de pesquisa gerenciadas pela FUSP.
O ambiente é propício para co-working: uma sala ampla e retangular, cheia de bancadas longas e vazias, com pufes e sofás posicionados nos cantos. Tomadas existem por todos os lados e a conexão à wi-fi é bastante estável, logo foi possível trabalhar em qualquer parte do Laboratório. Somando isso ao bom trabalho e à simpatia dos organizadores, estrutura não foi um problema.
Para se tornar uma “usina de trabalho permanente”, ainda é preciso ocupar continuamente todo esse espaço. Isso se constrói ao longo de anos e requer ações estratégicas, dentre as quais já podemos identificar a Hackatona da CET, criada para levar o público potencial ao espaço físico do Laboratório, repercutir na mídia e chamar a atenção de desenvolvedores.
Hackatonas
Hackatonas são competições e o problema está aí. As equipes só conversaram entre si depois da apresentação de todos os projetos. Ainda que muitos grupos buscassem resolver problemas parecidos, nenhum compartilhou ideias, dúvidas ou soluções com a equipe vizinha. Quem ajudaria o adversário?
Aliás, quando começa a Hackatona? Posso trazer códigos prontos de casa? Posso receber auxílio remoto? Se o objetivo fosse apenas melhorar a mobilidade urbana, nenhuma dessas perguntas teria qualquer pertinência. Como a meta era ganhar o prêmio, ficou difícil não julgar o mérito dos outros projetos com base na interpretação dessas questões.
Um prêmio de valor alto faz com que os participantes dêem seu melhor durante muitas horas seguidas, mas isso não implica em uma maior qualidade dos projetos. Se o objetivo maior da Hackatona é utilizar seu orçamento público para melhorar o espaço público, a estratégia mais eficaz seria criar laços entre os participantes e não colocá-los uns contra os outros.
Mais de 50 pessoas com interesses próximos ficaram reunidas por 28 horas em uma sala sem divisórias, mas pouco dialogaram entre si. Um desperdício da presencialidade. Como sugestão para uma próxima edição, intervalos obrigatórios com atividades de integração poderiam nos ajudar a vencer nossa timidez e trocar experiências uns com os outros.
Sustentabilidade
Há muito mais a se ponderar a respeito do formato hackatona. Quais são seus objetivos? As ideias premiadas de fato são implementadas? Ganha quem tem o melhor projeto ou os melhores slides? Há sustentabilidade em premiar com muito dinheiro grupos que trabalham juntos apenas por um ou dois dias? Hackatonas ou hackdays?
Há algumas semelhanças entre hackatonas e edições da Virada Cultural: as duas duram pouco, mas oferecem muito a quem participa, seja muito dinheiro, sejam muitas atrações. Mas quando não são seguidas por outros programas de incentivo à cultura e à tecnologia, o impacto a médio prazo de ambas é quase nulo.
Nas palavras do meu amigo poeta Rafa Carvalho: “Quão bacana é pegar um sem-teto, botá-lo num hotel seis estrelas para um fim de semana de rei e depois devolvê-lo ao relento?”. Penso parecido: vale a pena buscar soluções rápidas e explosivas, quando uma mudança de verdade requer trabalho continuo e gradativo?
Os Premiados
A avaliação foi feita por cerca de dez jurados representantes dos patrocinadores, da SMT e da CET. Foram levados em conta os quatro critérios definidos no regulamento: interesse público, monitoramento participativo, criatividade e qualidade técnica.
Em 3º lugar, ficou o projeto “tranSPlot” (equipe Bad Request), feito para informar a condição do trânsito e a situação das vias de São Paulo com base em dados obtidos dos celulares dos cidadãos e do sistema da CET. O prêmio recebido foi de R$5 mil reais.
Em 2º lugar, o projeto “Bicidade”, da eqiupe BEM OK. O aplicativo traz as melhores rotas para ciclistas, levando em conta não somente a existência de ciclovias, mas o relevo do trajeto também. O projeto recebeu R$7 mil reais.
Em 1º lugar, ficou o aplicativo “Como estou dirigindo?”, ou #OLuluDosMotoristas, da equipe Mil Diálogos. Fiz parte dessa equipe, então compartilho o nosso texto de apresentação, os slides de apresentação e a minha entrevista para a rádio CBN SP.
Próximo Passo
A SMT convidou para uma reunião de apresentação dos projetos participantes da Hackatona CET. Estará reunida a diretoria da CET e representantes dos departamentos para que possam avaliar a viabilidade das propostas apresentadas e possível interesse nos projetos. A equipe da qual participei já confirmou presença, então espero trazer boas novas na próxima semana.
Veja mais:
- Site oficial da Hackatona CET
- Laboratório de Tecnologia marca experiência inédita de governo aberto na área de Transportes, no Portal da Prefeitura de São Paulo
- CET dá R$ 10 mil a projeto de app que denuncia maus motoristas, por G1
- CET anuncia os vencedores da sua 1ª. Hackatona
Zé Carlos Barreta é o autor da imagem de capa.