Advocacy e Pesquisa

Quase meio milhão de vacinas aplicadas no país não apresentam registro de grupo prioritário

20 maio de 2021, por OKBR

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Informação é fundamental para monitorar o acesso à vacina; este e outros indicadores serão atualizados semanalmente em nova ferramenta lançada pela OKBR

Para 489.858 vacinas aplicadas até 18/5, no Brasil, não há informação sobre o grupo prioritário ao qual as pessoas vacinadas pertencem. No Paraná, 84,7 mil casos não apresentam a informação. É o estado em que a ausência mais se repete, seguido por São Paulo, com 73,8 mil.

Diante da escassez de doses disponíveis no país, o Plano Nacional de Imunização contra a Covid-19 definiu grupos prioritários para iniciar a vacinação, reduzir os índices de mortalidade causada pelo vírus e preservar o funcionamento de serviços de saúde e outros serviços essenciais. Pessoas idosas, com comorbidades que implicam em maior risco à doença e trabalhadoras da saúde são alguns exemplos desses grupos. 

“Isso torna a informação sobre grupos prioritários um registro crucial, já que é ela a ‘porta de entrada’ das pessoas à imunização”, aponta Danielle Bello, coordenadora de Advocacy e Pesquisa da OKBR. “Além de viabilizar o controle de quem está tomando a vacina, ela também permite analisar o andamento da imunização entre os diferentes grupos”. Uma análise como essa, por exemplo, permitiu constatar que a imunização de indígenas na Amazônia era a mais atrasada entre grupos priorizados pelo governo federal, conforme estudo publicado em março pela OKBR. 

Mas a ausência da informação sobre grupos prioritários não é o único problema identificado. O preenchimento dos microdados da vacinação, publicados pelo Ministério da Saúde e acessados por meio de API (Application Programming Interface), é analisado através do novo painel da Open Knowledge Brasil (OKBR), lançado nesta quinta, 20/5: o Monitor da Vacinação. A ferramenta conta com o apoio técnico da Lagom Data para a coleta e análise dos dados.

Os problemas de qualidade dos dados da vacinação

O Ministério da Saúde disponibiliza dados nacionais sobre a vacinação no Open DataSUS, por meio de uma API e de uma base, em formato aberto. Além disso, os dados de vacinas aplicadas também estão disponíveis em um painel, ferramenta com potencial de facilitar o acesso a mais pessoas e oferecer informações agregadas de forma rápida. No entanto, o exame dos microdados aponta que há uma divergência na quantidade de doses registradas na base de dados e àquela apresentada pelo painel. 

Em nota técnica publicada em março pela OKBR junto com outras seis organizações da sociedade civil, uma diferença de quase 100 mil doses a mais mostradas no painel foi relatada. Hoje, a diferença ultrapassa 1,2 milhão de doses. A OKBR chegou a registrar um pedido de acesso à informação sobre a diferença ainda em fevereiro, ao qual o Ministério da Saúde nunca respondeu. 

Foram identificadas também repetições de registros na base, como se uma mesma pessoa tivesse tomado uma mesma dose de vacina mais de uma vez. Em março, quando apenas cerca de 6,5 milhões de vacinas haviam sido aplicadas, 25.536 pessoas apareciam registradas mais de uma vez para a primeira dose, e 2.746 para a segunda. Atualmente, com mais de 53 milhões de vacinas aplicadas, as duplicatas ocorrem 713.701 vezes para a primeira dose e 340.898 vezes para a segunda. 

Outro problema identificado foi a ausência da informação raça/cor, dado obrigatório a ser informado nos registros de saúde (Portaria nº 344/2017, do Ministério da Saúde). À época do estudo, a média de não preenchimento era de 27%. Hoje, está em torno de 21%, com gargalos maiores em alguns estados: Distrito Federal (43,5%), Rio de Janeiro (39,3%) e São Paulo (36,6%). 

“Todas essas questões de preenchimento impactam a qualidade dos dados e prejudicam o monitoramento do processo de vacinação”, afirma Fernanda Campagnucci, diretora-executiva da OKBR. “O Monitor da Vacinação terá um papel fundamental para jogar luz, mais uma vez, sobre essas fragilidades”.  

O Monitor da Vacinação da OKBR 

O novo painel lançado pela OKBR apresenta um panorama sobre a qualidade dos microdados de vacinação publicados pelo Ministério da Saúde. A atualização será semanal, sempre às quartas-feiras, com dados divulgados pelo órgão no dia anterior.

Além do comparativo entre doses registradas nas diferentes fontes de informação e dos dados de raça/cor e grupos prioritários, a ferramenta traz informações sobre a atualização dos registros nos municípios brasileiros: é possível saber quantos estão atrasados e por quanto tempo. No módulo de exploração por municípios, as análises podem ser aprofundadas com base em diferentes critérios, como dados de localização, perfil das cidades, demora na notificação de pessoas vacinadas, entre outros. 

O Monitor da Vacinação faz parte da terceira fase da iniciativa “Transparência Covid-19”, conjunto de avaliações da OKBR para monitorar a disponibilidade de informações sobre a pandemia. O projeto ainda integra a campanha Caixa Aberta, que pressiona o Ministério da Saúde por mais transparência sobre a vacinação. Acesse o site transparênciavacina.org.br e pressione você também!