O ano em que celebramos uma década: relembre o 2023 da OKBR

18 jan de 2024, por Fernanda Campagnucci

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Comemoramos com a ampliação de ações em todo o Brasil e uma rede ainda maior de pessoas e organizações parceiras

Defesa da democracia, ação climática, meio ambiente, educação, investigação de violações de direitos humanos. Conectados pelo fio condutor do conhecimento livre, esses temas marcaram a atuação da Open Knowledge Brasil (OKBR) em 2023 — ano em que celebramos dez anos de luta por transparência, tecnologias abertas e maior engajamento e participação social na esfera pública.    

Janeiro de 2023 começou com a forte reação da sociedade brasileira contra o ataque às sedes dos três poderes em Brasília, em 8 daquele mês. A tecnologia e o uso de dados foram aliados fundamentais na identificação célere dos criminosos e, principalmente, de seus instigadores e suas redes de financiamento. 

A OKBR, com apoio do Laboratório de Democracia da Purpose, participou desse esforço, rapidamente organizando oficinas para auxiliar jornalistas, outras organizações da sociedade civil e autoridades públicas a investigar evidências das violações no ambiente digital. Mais adiante, em junho, a formação de investigações digitais para jornalistas e ativistas de direitos humanos ganhou nova edição, consolidando a estratégia da Escola de Dados de democratizar o acesso a esse conhecimento tão crítico para o espaço cívico atual.     

Outras comunidades e espaços de utilização crítica dos dados também deram o tom do 2023 da nossa rede. O Open Data Day, celebração internacional dos dados abertos que acontece anualmente no início de março, contou com apoio de microbolsas da OKBR pela primeira vez e participação em diversos estados

Entrando no segundo ano do programa Vozes pela Ação Climática Justa, a OKBR seguiu aprofundando sua atuação com parceiros na Amazônia brasileira. Apoiamos e fomentamos encontros protagonizados por comunidades locais em torno de tecnologias cívicas, em municípios de toda a região, como Açailândia (MA), Ananindeua (PA), Cacoal (RO), Marabá (PA), Palmas (TO), Rio Branco (AC), Tabatinga (AM) e Uiramutã (RR). Também fizemos mais uma edição do curso Python para Inovação Cívica, direcionada especialmente à região Norte. 

Fortalecer o ecossistema de dados e inovação cívica é o objetivo de nossa coalizão, que conta também com a Casa Preta, o Coletivo Puraqué, a InfoAmazonia e os coletivos Pyladies e Pydata em Manaus. Para termos um primeiro panorama desse ecossistema, e compreendermos quem são as organizações e coletivos que produzem, compartilham e usam dados na região — ou que podem se beneficiar de formações e passar a fazer isso —, a OKBR fez um mapeamento e divulgou o resultado em um livro digital.  

Em outra frente de atuação, uma “força-tarefa” conhecida como “sprint” foi realizada de forma virtual para contribuir ativamente com o Querido Diário. Como resultado, diários oficiais de 16 municípios do Maranhão, sendo 12 da Amazônia Legal, foram incluídos na plataforma e se tornaram mais acessíveis para o controle social e o monitoramento de políticas públicas nessas localidades.

O ponto alto dessa mobilização em torno da Amazônia brasileira foi o segundo Coda Amazônia, edição regional da Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados e Métodos Digitais, considerada o principal evento de jornalismo de dados da América Latina. O encontro foi organizado pela Escola de Dados da OKBR e parceiros, reunindo novamente mais de 200 pessoas em Belém (PA) em 31 de agosto e 1º de setembro. Pela primeira vez, o Coda Amazônia também contou com um dia de atividades na Ilha do Marajó, numa parceria com o Observatório do Marajó, em 2 de setembro.

Entre os temas discutidos durante o Coda, estavam o uso de dados na comunicação comunitária da Amazônia, segurança digital de jornalistas e defensores de direitos humanos e ambientais, entre outros. Os desafios da cobertura jornalística sobre justiça climática ganharam enfoque especial, gerando um guia rápido para apoiar profissionais nessa tarefa guiada por dados.

Os impactos desses encontros ainda ecoam e geram frutos. O lançamento de uma pós-graduação de jornalismo de dados foi anunciado na abertura do evento pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará, nossa anfitriã em Belém, como resultado direto da parceria para a primeira edição do Coda Amazônia. O público — local e de outros estados — tomou conhecimento dos riscos de inundações que as comunidades da Ilha do Marajó podem sofrer com o aumento do nível do mar e histórias sobre a região entraram no radar de jornalistas que cobrem questões socioambientais nacionalmente. 

O curso de jornalismo de dados ambientais ganhou uma nova edição em 2023, contando, desta vez, com um módulo extra sobre como trabalhar com dados climáticos. Também inovamos no formato, ao experimentar com “polos presenciais”, em que distribuímos pen drives com todo o conteúdo do curso para que pudesse chegar a pessoas com baixa ou nenhuma conectividade, além de acesso a uma mentoria local. A experiência se mostrou acertada — sete lideranças comunitárias, das cidades de Anajás, Chaves, Afuá, Melgaço, Gurupá e Portel – por exemplo, conseguiram assistir aos vídeos em sua televisão, graças a esses dispositivos.    

O apoio da OKBR a organizações para a cobertura das mudanças climáticas também ganhou novo formato em 2023, abrindo avenidas para mais colaborações em torno do tema. No finalzinho do ano, com apoio do Centre for Investigative Journalism (CIJ), nossa Escola de Dados realizou o laboratório de jornalismo de dados com a redação da Alma Preta.  

Ainda mais Querido Diário

Em 2023, o Querido Diário ficou ainda mais querido. Conquistou espaços, reconhecimento e se consolidou como uma infraestrutura de dados abertos que já beneficia iniciativas das mais diversas naturezas — de pesquisa a controle social de políticas públicas, além de serviços e novas aplicações de outras organizações. O balanço é de tirar o fôlego!

Fechamos o ano ultrapassando a cobertura de 350 cidades, onde mais de 55 milhões de pessoas vivem — ou 27% da população brasileira. Superamos desafios técnicos e abrimos caminho para que rapidamente já possamos falar em mais de mil municípios com informação pública mais acessível.   

O Querido Diário ganhou uma interface especial para o monitoramento de tecnologias na educação municipal, incluindo a publicação de análises e apresentação de casos sobre as iniciativas de conectividade nas redes municipais. Chamamos a atenção para a necessidade de dar mais transparência às formas de contratação de empresas e aplicativos nos municípios, inclusive para que a comunidade educativa possa compreender como seus dados pessoais estão sendo tratados.

A infraestrutura por trás do QD também viabilizou o lançamento do Diário do Clima, plataforma que permite monitorar atos relacionados a meio ambiente e políticas em torno das mudanças climáticas nos diários oficiais dos municípios, trazendo-os para o radar de jornalistas, pesquisadores e entidades engajadas na temática. A ferramenta foi desenvolvida pela OKBR em conjunto com outras cinco organizações e teve apoio do Google News Initiative.  

São tantas as possibilidades dessa infraestrutura de dados — tudo o que as cidades publicam diariamente e que antes era inviável acessar — que o valor público dessa iniciativa começa a saltar aos olhos e ganhar destaque internacional. Tivemos a honra de ter o Querido Diário selecionado para ser destaque na Cúpula do Prêmio Nobel, como um bem público digital que ajuda a combater a desinformação. Pouco tempo depois, após uma rigorosa avaliação da Digital Public Goods Alliance, o Querido Diário também recebeu a chancela de bem público digital e passou a ser listado no repositório ao lado de projetos de código aberto de todo o mundo.    

Em busca de governos abertos 

Uma marca importante da OKBR é a colaboração com o setor público e a incidência em políticas para que governos e órgãos públicos sejam mais abertos. Esse trabalho assume várias faces — produção de análises e recomendações, participação qualificada em espaços institucionais, parcerias e formações. Em 2023, pudemos realizar todas elas.

Seguimos o trabalho de monitoramento da Infraestrutura Nacional de Dados Abertos, uma instância do governo federal que, embora fundamental para impulsionar essa agenda, ainda não tem a visibilidade que merece. Contribuímos com o processo de elaboração de um novo Plano de Ação da Parceria para Governo Aberto (OGP) e, como representantes da sociedade civil brasileira, marcamos presença na cúpula da OGP na Estônia. 

Ainda na esfera federal, passamos a integrar o novo Conselho de Transparência, Integridade e Combate à Corrupção vinculado à Controladoria Geral da União (CGU). E foi ao lado da CGU que anunciamos uma grande notícia para o campo dos dados abertos brasileiro: pela primeira vez, a Condatos e a Abrelatam, principais eventos da comunidade latinoamericana, serão realizados no Brasil. OKBR e CGU serão as coanfitriãs, em 2024. 

Vem aí!

Alguns dos projetos mais importantes de 2023 viraram o ano ainda no forno — e devem sair quentinhos, muito em breve, para o mundo! O Índice de Dados Abertos para Cidades (ODI Cidades) foi completamente reformulado após um processo de escuta com especialistas e comunidade, e promete um retrato inédito — e impactante — do estado dos dados abertos em todas as capitais brasileiras. 

Sob coordenação da OKBR, 12 pessoas avaliadoras coletaram e analisaram os dados das 14 áreas de políticas públicas e de governança nas 26 capitais entre julho e outubro deste ano — olhando com lupa para 111 bases de dados em cada uma. Agora, os resultados preliminares estão passando por validação e ajustes para lançamento no primeiro semestre de 2024, a tempo de pautar o tema nas eleições municipais.   

Saindo do forno também está o “Cominutas” da OKBR — plataforma que usa como base o software livre Decidim para a construção colaborativa de textos e propostas. Com a ferramenta, que construímos e customizamos com a parceira Codeando México, poderão ser cocriadas políticas, resoluções e outros instrumentos para apoiar gestores a implementar governos mais abertos e próximos da sociedade.

Seguimos essa caminhada em 2024, para abrir uma nova década de construção colaborativa de sociedades e governos mais justos, transparentes e abertos. Feliz ano novo!